Efeitos da suspensão do acordo de exportação de grãos ucranianos pela Rússia

Hoje, 17 julho de 2023, a Rússia anunciou que não vai prorrogar o acordo que permitia a exportação de grãos ucranianos a países pobres, exigindo que suas próprias exportações de grãos e fertilizantes sejam facilitadas. Essa decisão foi um ato de crueldade contra a Ucrânia e o mundo, que já sofriam com a invasão russa e a crise de fome.

Neste artigo, vamos mostrar os possíveis efeitos dessa suspensão a curto, médio e longo prazo, bem como quem pode levar vantagem ou perder com essa situação.

Contexto histórico


A Ucrânia e a Rússia estão em guerra desde 2014, quando a Rússia anexou a península da Crimeia e apoiou os separatistas das regiões de Donetsk e Luhansk, que se opõem ao governo central da Ucrânia. Esses conflitos resultaram em mais de 14 mil mortes e cerca de 2 milhões de deslocados internos.
Em fevereiro de 2022, a Rússia lançou uma invasão em grande escala da Ucrânia, com ataques aéreos e terrestres em várias cidades do país. A Rússia justificou a invasão como uma forma de proteger os russos étnicos na Ucrânia e de impedir a “desnazificação” do país, que segundo Putin, seria promovida pelo Ocidente. A Ucrânia denunciou a invasão como uma agressão ilegal e pediu apoio internacional para defender sua soberania e integridade territorial.
Em julho de 2022, após meses de negociações mediadas pelas ONU e pela Turquia, a Ucrânia e a Rússia assinaram um acordo que permitia a exportação de grãos ucranianos através de um corredor humanitário no Mar Negro . O acordo envolvia a inspeção e o monitoramento de todos os navios que chegavam e saíam dos portos da Ucrânia por equipes internacionais compostas por funcionários da Rússia, Ucrânia, Turquia e da ONU .
O acordo foi uma tentativa de aliviar a crise alimentar mundial, causada pelo bloqueio russo aos portos ucranianos desde o início da invasão. A Ucrânia é um dos maiores produtores e exportadores de grãos do mundo, sendo responsável por cerca de 16% das exportações globais de trigo e 20% das exportações globais de milho em 2020. Esses grãos são essenciais para a segurança alimentar de muitos países pobres, especialmente na África e no Oriente Médio, que dependem das importações para suprir suas necessidades.
O acordo permitiu exportar milhões de toneladas de grãos bloqueados nos portos ucranianos desde o início da ofensiva russa na Ucrânia . No entanto, o acordo não significava que a Ucrânia fornecia grãos para a Rússia. Pelo contrário, a Ucrânia buscava outros mercados para seus produtos agrícolas, competindo com a Rússia no cenário internacional.

Efeitos a curto prazo (ponto de vista macro)


A suspensão do acordo impacta diretamente as exportações de grãos ucranianos via portos cruciais no Mar Negro. A suspensão não foi uma mera formalidade, mas sim uma decisão que teve impactos significativos no mercado global de grãos e na segurança alimentar mundial.
A suspensão do acordo pode causar uma escassez imediata de grãos nesses países, elevando os preços dos alimentos e agravando a situação de fome e desnutrição. Segundo a ONU, mais de 811 milhões de pessoas sofrem de fome crônica no mundo, sendo que 41 milhões estão à beira da fome. A pandemia de Covid-19 também contribuiu para piorar esse cenário, reduzindo a renda e o acesso aos alimentos de milhões de pessoas.
A suspensão do acordo também afeta negativamente a economia da Ucrânia, que depende das exportações agrícolas para gerar receita e emprego. O setor agrícola representa cerca de 10% do PIB da Ucrânia e emprega cerca de 14% da força de trabalho. Além disso, a Ucrânia enfrenta uma guerra contra a Rússia desde 2014, que já custou mais de 14 mil vidas e cerca de 2 milhões de deslocados internos. A invasão russa em fevereiro de 2022 causou mais mortes, danos e instabilidade no país.

Efeitos a médio prazo (ponto de vista macro)


A suspensão do acordo pode ter efeitos duradouros no mercado global de grãos, alterando os padrões de oferta e demanda, os fluxos comerciais e os preços.
A redução das exportações ucranianas pode levar a um aumento da demanda por grãos de outros países produtores, como Estados Unidos, Canadá, Austrália e Argentina. Isso pode beneficiar esses países em termos de receita e competitividade, mas também pode gerar tensões comerciais e geopolíticas com a Rússia.
Por outro lado, os países importadores de grãos podem enfrentar dificuldades para encontrar fontes alternativas de abastecimento, especialmente se houver restrições ou sanções impostas pela Rússia ou por seus aliados. Isso pode levar a uma maior dependência de ajuda humanitária ou a uma busca por novos parceiros comerciais.
Alguns países podem tentar aumentar sua produção doméstica de grãos, mas isso pode exigir investimentos em infraestrutura, tecnologia e políticas agrícolas.
A suspensão do acordo também pode ter implicações para o meio ambiente e o clima.
A menor disponibilidade de grãos pode levar a uma maior demanda por outras fontes de alimentos, como carne, laticínios e produtos processados. Isso pode aumentar as emissões de gases de efeito estufa, o desmatamento, o uso de água e o desperdício de alimentos.
Além disso, a mudança climática pode afetar a produtividade agrícola em diferentes regiões do mundo, aumentando a vulnerabilidade dos países dependentes das importações.

Efeitos a longo prazo (ponto de vista macro)


A suspensão do acordo pode ter consequências profundas e irreversíveis para a economia e a sociedade russas. A Rússia pode perder sua posição como um dos principais atores no mercado global de grãos, enfrentando uma maior concorrência e isolamento.
A Rússia também pode sofrer sanções econômicas mais severas por parte da comunidade internacional, que podem afetar não apenas suas exportações agrícolas, mas também seus setores estratégicos, como energia, defesa e finanças.
A Rússia pode enfrentar uma deterioração de suas relações diplomáticas com seus vizinhos e parceiros comerciais, especialmente com a União Europeia, que é seu maior mercado para o gás natural.
A União Europeia pode buscar reduzir sua dependência energética da Rússia, diversificando suas fontes e rotas de abastecimento. Isso pode diminuir a influência política e econômica da Rússia na região e no mundo.
A Rússia também pode sofrer consequências sociais internas decorrentes da suspensão do acordo. A população russa pode enfrentar uma queda na renda, no consumo e na qualidade de vida. A inflação pode aumentar, corroendo o poder de compra dos cidadãos.
A pobreza e a desigualdade podem se agravar na Rússia, afetando principalmente os grupos mais vulneráveis, como idosos, crianças, mulheres e minorias étnicas.
A insatisfação social pode aumentar, levando a protestos, conflitos e violência. A legitimidade e a popularidade do governo podem cair, abrindo espaço para oposição e contestação.
A Rússia pode enfrentar uma crise política e social interna, que pode ter repercussões externas.

Quem ganha e quem perde com essa situação?


Neste cenário da suspensão do acordo pode ter vencedores e perdedores em diferentes níveis e dimensões.
Em termos de países, os principais beneficiados são os grandes produtores e exportadores de grãos que podem suprir a demanda dos países importadores, como Estados Unidos, Canadá, Austrália e Argentina. Esses países podem aumentar sua receita, sua competitividade e sua influência no mercado global de grãos.
Enquanto que os principais prejudicados serão os países pobres e dependentes das importações de grãos, especialmente na África e no Oriente Médio, que podem sofrer com a escassez, o aumento dos preços e a fome. Esses países podem ter que recorrer à ajuda humanitária ou buscar novos parceiros comerciais para garantir sua segurança alimentar.
Em termos de agentes econômicos, os principais beneficiados serão os produtores e exportadores de grãos dos países que podem aproveitar a oportunidade de mercado aberta pela suspensão do acordo. Eles podem aumentar seus lucros, seus investimentos e sua produtividade.
Por outro lado, os principais prejudicados serão os produtores e exportadores de grãos da Ucrânia, que podem perder seus mercados, sua renda e seu emprego. Eles podem ter que reduzir sua produção, buscar novos nichos ou abandonar a atividade agrícola.
Os principais segmentos da economia beneficiados podem ser os setores relacionados à produção e ao comércio de grãos, como transporte, armazenamento, processamento e distribuição. Esses setores podem expandir suas atividades, gerar mais valor agregado e criar mais empregos.
Por outro lado, os principais prejudicados podem ser os setores relacionados ao consumo de grãos, como alimentação humana e animal, indústria de alimentos e bebidas e biocombustíveis. Esses setores podem enfrentar dificuldades para obter matéria-prima, aumentar seus custos e reduzir sua competitividade.
Os grupos sociais mais ricos e com maior capacidade de adaptação às mudanças no mercado de grãos, também serão os grandes beneficiário por não sofrer grandes impactos. Esses grupos podem manter ou até melhorar seu padrão de vida, seu consumo e seu bem-estar.
Do outro lado, os principais prejudicados estarão os grupos mais pobres e com menor capacidade de adaptação às mudanças no mercado de grãos. Eles podem ver seu poder de compra diminuir, seu consumo reduzir e seu bem-estar piorar.

Como o cidadão comum é afetado por essa crise?


A suspensão do acordo pode afetar o cidadão comum de diferentes formas, dependendo do país em que ele vive, da sua renda, da sua ocupação e do seu estilo de vida.
De forma geral, podemos dizer que a suspensão do acordo pode ter impactos negativos sobre o emprego, o bolso do cidadão e a comida no prato.
O emprego pode ser afetado pela suspensão do acordo porque ela pode gerar desequilíbrios na oferta e na demanda de grãos no mercado global, que pode levar a uma reestruturação produtiva em diferentes setores da economia, criando ou eliminando postos de trabalho, pode também afetar o crescimento econômico dos países envolvidos na crise, reduzindo as oportunidades de emprego.
O bolso do cidadão pode ser afetado diretamente, porque ela pode gerar inflação nos preços dos alimentos derivados dos grãos, que vai corroer o poder de compra do cidadão, que terá que gastar mais para adquirir os mesmos produtos. Além disso, pode afetar a renda do cidadão, que pode perder seu emprego ou ter seu salário reduzido.
De uma forma geral, a comida no prato poderá ser afetada porque a suspensão poderá gerar escassez de alimentos derivados dos grãos, em consequência, poderá limitar as opções de consumo do cidadão, que terá que se contentar com uma dieta menos variada e nutritiva. Além disso, a suspensão do acordo pode afetar a qualidade dos alimentos, que podem ser adulterados ou contaminados para aumentar a lucratividade dos produtores ou comerciantes.

Conclusão

A suspensão do acordo de exportação de grãos ucranianos pela Rússia é um evento que muda o mundo e nos afeta de diferentes formas. Ela não é um problema distante e isolado, mas uma realidade próxima e interligada e tem consequências graves para a economia e a sociedade mundial.
Ela poderá gerar escassez, inflação, desemprego, pobreza, desigualdade, fome, conflito, violência e instabilidade.
Diante disso, como você se posiciona?
Você fecha os olhos e finge que nada está acontecendo?
Você se preocupa com o seu bem estar e o dos outros? Você confia nos seus investimentos ou teme perdê-los?
Você vai se prepara para o pior ou busca o melhor?
Você vai esperar o leite derramar ou vai agir antes que seja tarde demais?
Não podemos ficar indiferentes e passivos diante dessa crise e ignorar os riscos que estão diante dos nossos olhos.
Temos que agir antes que seja tarde demais.
Agradecemos aos nossos leitores por acompanharem este artigo até o final. Esperamos que ele tenha sido informativo e interessante para vocês. Se vocês gostaram deste conteúdo, por favor, curtam, comentem e compartilhem com seus amigos nas redes sociais. Isso nos ajuda a divulgar nosso trabalho e a alcançar mais pessoas.
By IDFM
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