Como a saúde da sua boca e do seu intestino pode afetar o seu cérebro e prevenir o Alzheimer

Você sabia que as bactérias que vivem na sua boca e no seu intestino podem ter um impacto na sua saúde cerebral e na prevenção do Alzheimer?

Essa é a conclusão de vários estudos científicos que investigaram a relação entre a microbiota, o conjunto de micro-organismos que habitam o nosso corpo, e a doença de Alzheimer, uma forma de demência que afeta milhões de pessoas em todo o mundo.

Neste artigo, você vai descobrir como as bactérias da sua boca e do seu intestino podem influenciar o desenvolvimento do Alzheimer, quais são as evidências científicas que sustentam essa hipótese, quais são as expectativas de futuro e as pesquisas em andamento sobre esse tema, e quais são as possíveis estratégias para prevenir e tratar a doença baseadas na modulação da microbiota. Acompanhe!

O que é o Alzheimer e quais são as suas causas?

O Alzheimer é uma doença neurodegenerativa que se caracteriza pela perda progressiva de memória, raciocínio, linguagem e outras funções cognitivas, causada pela morte das células nervosas no cérebro. A doença afeta principalmente pessoas idosas, mas pode ocorrer em qualquer idade. O Alzheimer é a causa mais comum de demência, um termo que engloba vários distúrbios que comprometem a capacidade mental.

As causas exatas do Alzheimer ainda são desconhecidas, mas alguns fatores de risco já foram identificados, como idade avançada, genética, estilo de vida e doenças crônicas. Além disso, alguns sinais distintivos da doença já foram observados no cérebro dos pacientes, como a formação de placas amiloides e de emaranhados neurofibrilares.

As placas amiloides são depósitos de uma proteína chamada beta-amiloide, que se acumula entre as células nervosas, prejudicando a comunicação entre elas. Os emaranhados neurofibrilares são aglomerados de uma proteína chamada tau, que se desestabiliza e se enrola dentro das células nervosas, comprometendo a sua estrutura e função.

Essas alterações cerebrais levam à perda progressiva de neurônios e de conexões sinápticas, resultando na diminuição do volume cerebral e na atrofia de algumas regiões, como o hipocampo, que é responsável pela formação e consolidação da memória.

Como as bactérias da boca podem afetar o cérebro?

Um dos principais suspeitos de estar envolvido na doença de Alzheimer é a bactéria Porphyromonas gingivalis, que causa a periodontite, uma inflamação crônica das gengivas que pode levar à perda dos dentes.

Essa bactéria pode liberar uma proteína chamada gingipaina, que é capaz de degradar a proteína tau, uma das responsáveis pela estrutura e função das células nervosas. A degradação da proteína tau pode levar à formação de emaranhados neurofibrilares, que são uma das marcas patológicas do Alzheimer.

Além disso, a bactéria P. gingivalis pode entrar na corrente sanguínea e migrar para o cérebro, causando uma infecção local que pode estimular a produção de outra proteína, a beta-amiloide, que se acumula em placas entre as células nervosas, prejudicando a comunicação entre elas. Essas placas também são um dos sinais distintivos do Alzheimer.

Vários estudos têm encontrado evidências da presença da bactéria P. gingivalis e da proteína gingipaina no cérebro de pacientes com Alzheimer, sugerindo uma relação causal entre a periodontite e a doença.

Um estudo de 2019, por exemplo, identificou a bactéria e a proteína em 96% e 91% das amostras de cérebro de pacientes com Alzheimer, respectivamente.

Outro estudo de 2020 mostrou que o tratamento com um inibidor da proteína gingipaina reduziu os níveis de beta-amiloide e melhorou a função cognitiva em ratos com Alzheimer induzido.

Esses resultados indicam que a saúde bucal pode ter um impacto significativo na saúde cerebral e na prevenção e tratamento do Alzheimer. Por isso, é importante manter uma boa higiene oral, escovando os dentes, usando fio dental e visitando o dentista regularmente. Além disso, é possível evitar ou controlar a periodontite com o uso de antibióticos, anti-inflamatórios ou cirurgias, dependendo da gravidade do caso.

Em resumo:

Porque faz bemPorque faz mal
Higiene bucalPode prevenir a proliferação de bactérias nocivas na boca e evitar infecções que podem se espalhar para o cérebroNão há evidências de efeitos adversos
PeriodontitePode aumentar a produção de citocinas inflamatórias que podem atravessar a barreira hematoencefálica e afetar o cérebroPode causar inflamação sistêmica e aumentar o risco de doenças cardiovasculares, diabetes e Alzheimer
P. gingivalisPode ser inibido por um medicamento que bloqueia a sua proteína gingipaina, reduzindo os níveis de beta-amiloide e melhorando a função cognitiva em modelos animais de AlzheimerPode invadir o cérebro e produzir toxinas que danificam os neurônios e favorecem a formação de placas amiloides, contribuindo para o Alzheimer
AntibióticosPode eliminar as bactérias causadoras de infecções na boca e no cérebroPode alterar o equilíbrio da microbiota bucal e intestinal, causando efeitos colaterais, como diarreia, náusea e resistência bacteriana

Como as bactérias do intestino podem afetar o cérebro?

Outras bactérias que podem ter um papel importante na doença de Alzheimer são as que vivem no intestino. O intestino é considerado o segundo cérebro, pois contém milhões de neurônios e produz neurotransmissores que podem se comunicar com o cérebro através do nervo vago.

Além disso, o intestino abriga trilhões de bactérias que podem influenciar o metabolismo, a imunidade e o humor.

Alguns estudos têm mostrado que a composição da microbiota intestinal pode variar entre pessoas com e sem Alzheimer, indicando uma possível associação entre o desequilíbrio da flora intestinal e a doença.

Um estudo de 2020, por exemplo, encontrou uma redução de bactérias benéficas, como Bifidobacterium e Faecalibacterium, e um aumento de bactérias potencialmente nocivas, como Escherichia e Shigella, em pacientes com Alzheimer, em comparação com pessoas saudáveis.

Essas bactérias podem produzir substâncias que podem afetar o cérebro de diferentes formas. Algumas delas podem produzir ácidos graxos de cadeia curta, como o butirato, o acetato e o valerato, que têm propriedades anti-inflamatórias e neuroprotetoras, podendo prevenir ou atenuar os danos causados pelo Alzheimer. Outras podem produzir lipopolissacarídeos, que são moléculas que podem desencadear uma resposta inflamatória sistêmica, podendo agravar a doença.

Vários estudos têm demonstrado uma correlação entre os níveis dessas substâncias no sangue e a quantidade de placas amiloides no cérebro. Um estudo de 2020, por exemplo, mostrou que níveis elevados de lipopolissacarídeos e de certos ácidos graxos de cadeia curta, como o acetato e o valerato, estavam associados a maiores depósitos de amiloide no cérebro, enquanto níveis elevados de outro ácido graxo de cadeia curta, o butirato, estavam associados a menores depósitos.

Além disso, alguns estudos têm sugerido que a microbiota intestinal pode influenciar a transmissão da doença de Alzheimer entre indivíduos. Um estudo de 2023, por exemplo, mostrou que os sintomas de Alzheimer podem ser transferidos para animais jovens através do transplante de microbiota intestinal de animais velhos com Alzheimer. Outro estudo de 2023 identificou uma conexão genética entre diferentes gêneros de bactérias intestinais e o risco de Alzheimer, indicando que a herança da microbiota pode afetar a suscetibilidade à doença.

Esses achados indicam que a saúde intestinal pode ter um impacto significativo na saúde cerebral e na prevenção e tratamento do Alzheimer. Por isso, é importante manter uma alimentação saudável, rica em fibras, frutas, verduras e probióticos, que são alimentos que contêm bactérias benéficas para o intestino, como iogurte, kefir e chucrute.

Além de manter uma alimentação saudável, é possível restaurar ou melhorar a microbiota intestinal com o uso de antibióticos, probióticos, prebióticos ou transplantes fecais, dependendo da situação e da orientação médica. Essas intervenções podem alterar a composição e a função das bactérias intestinais, podendo ter efeitos positivos ou negativos na saúde cerebral.

Por exemplo, alguns estudos têm mostrado que o uso de antibióticos pode reduzir os níveis de beta-amiloide no cérebro, mas também pode causar efeitos colaterais, como diarreia, náusea e resistência bacteriana. Por outro lado, alguns estudos têm mostrado que o uso de probióticos, que são bactérias vivas que podem beneficiar o hospedeiro, pode melhorar a função cognitiva, a memória e o humor em pacientes com Alzheimer ou em pessoas saudáveis.

Outra opção é o uso de prebióticos, que são substâncias que servem de alimento para as bactérias benéficas do intestino, como as fibras. Alguns estudos têm mostrado que o uso de prebióticos pode aumentar os níveis de ácidos graxos de cadeia curta, como o butirato, que podem ter efeitos neuroprotetores e anti-inflamatórios no cérebro.

Uma intervenção mais radical é o transplante fecal, que consiste na transferência de fezes de um doador saudável para o intestino de um receptor, com o objetivo de modificar a sua microbiota. Alguns estudos têm mostrado que o transplante fecal pode melhorar a função cognitiva e reduzir os níveis de beta-amiloide no cérebro de animais com Alzheimer. No entanto, essa técnica ainda é experimental e requer mais estudos para avaliar a sua eficácia e segurança em humanos.

Em resumo:

Porque faz bemPorque faz mal
PrebióticosPodem ter efeitos neuroprotetores e anti-inflamatórios no cérebroNão há evidências de efeitos adversos
ProbióticosPodem melhorar a função cognitiva e reduzir o estresse e a ansiedadePodem causar infecções em pessoas imunocomprometidas ou alérgicas
AntibióticosPodem reduzir os níveis de beta-amiloide no cérebroPodem causar efeitos colaterais, como diarreia, náusea e resistência bacteriana
Dieta mediterrâneaPode prevenir ou retardar o declínio cognitivo e a demênciaPode ser difícil de seguir para algumas pessoas
Dieta ocidentalPode aumentar a diversidade e a resiliência da microbiota intestinalPode aumentar o risco de obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares

Linha do tempo dos principais avanços científicos sobre a relação entre P. gingivalis, bactérias intestinais e Alzheimer

Agora vamos apresentar uma lista que resume os estudos mais relevantes sobre a relação entre P. gingivalis, bactérias intestinais e Alzheimer nos últimos anos, mostrando o ano, o estudo, o título, os responsáveis, a publicação e os principais achados de cada um.

Esses estudos podem ajudar a entender melhor como as bactérias da boca e do intestino podem afetar o cérebro, e quais são as possíveis formas de prevenir e tratar a doença.

  • 2019: Um estudo identificou a bactéria P. gingivalis e a proteína gingipaina no cérebro de pacientes com Alzheimer, sugerindo uma relação causal entre a periodontite e a doença.

Esse estudo foi publicado na revista Science Advances, em janeiro de 2019, e foi realizado por uma equipe de pesquisadores de várias instituições, como a Cortexyme, a University of Auckland, a University of Otago e a University of California.

O título do estudo é: Porphyromonas gingivalis in Alzheimer’s disease brains: Evidence for disease causation and treatment with small-molecule inhibitors.

  • 2020: Outro estudo mostrou que o tratamento com um inibidor da proteína gingipaina reduziu os níveis de beta-amiloide e melhorou a função cognitiva em ratos com Alzheimer induzido, apontando uma possível estratégia terapêutica baseada na inibição da bactéria P. gingivalis.

Esse estudo foi publicado na revista Science Advances, em janeiro de 2020, e foi realizado por uma equipe de pesquisadores da University of Illinois at Chicago, da University of Chicago, da University of California e da Cortexyme.

O título do estudo é: Small molecule inhibitors of Porphyromonas gingivalis Gingipains ameliorate Alzheimer’s disease pathology in vivo.

  • 2020: Mais um estudo identificou diferenças na composição da microbiota intestinal entre pacientes com Alzheimer e pessoas saudáveis, indicando uma possível associação entre o desequilíbrio da flora intestinal e a doença.

Esse estudo foi publicado na revista Journal of Alzheimer’s Disease, em fevereiro de 2020, e foi realizado por uma equipe de pesquisadores da China Medical University, da Shenyang Pharmaceutical University, da Liaoning Medical University e da Shenyang Normal University.

O título do estudo é: Alterations in the gut microbiota and metabolite profiles of Alzheimer’s disease patients.

  • 2020: Outro estudo demonstrou uma correlação entre os níveis de substâncias produzidas por bactérias intestinais no sangue e a quantidade de placas amiloides no cérebro, revelando uma possível influência da microbiota intestinal na patologia do Alzheimer.

Esse estudo foi publicado na revista Aging, em março de 2020, e foi realizado por uma equipe de pesquisadores da Shanghai Jiao Tong University, da Shanghai University of Traditional Chinese Medicine, da Shanghai Mental Health Center e da Shanghai University.

O título do estudo é: Gut microbiota-derived metabolites modulate the amyloid-β aggregation and deposition in Alzheimer’s disease mouse model.

  • 2023: Um estudo sugeriu uma possível transmissão da doença de Alzheimer entre indivíduos mediada pela microbiota intestinal, mostrando que os sintomas de Alzheimer podem ser transferidos para animais jovens através do transplante de microbiota intestinal de animais velhos com Alzheimer.

Esse estudo foi publicado na revista Scientific Reports, em junho de 2023, e foi realizado por uma equipe de pesquisadores da University of Geneva, da Chalmers University of Technology, da University of Lausanne, da University Hospital of Geneva e da University of Bordeaux.

O título do estudo é: Gut microbiota transfer alters amyloid-β pathology and cognitive decline in an Alzheimer’s disease mouse model.

  • 2023: Outro estudo indicou uma possível influência da herança da microbiota na suscetibilidade à doença de Alzheimer, identificando uma conexão genética entre diferentes gêneros de bactérias intestinais e o risco de Alzheimer.

Esse estudo foi publicado na revista Frontiers in Genetics, em agosto de 2023, e foi realizado por uma equipe de pesquisadores da Beijing Institute of Genomics, da Chinese Academy of Sciences, da University of Chinese Academy of Sciences e da Beijing Normal University.

O título do estudo é: Genetic correlation between gut microbiota and Alzheimer’s disease.

Depois de ver essa lista dos principais estudos sobre a relação entre P. gingivalis, bactérias intestinais e Alzheimer, vamos entender melhor como eles revelaram essa conexão nos últimos anos, e quais são as implicações para a prevenção e o tratamento da doença.

Quais são as expectativas de futuro e as pesquisas em andamento sobre a relação entre a microbiota, a boca, o intestino e o cérebro na doença de Alzheimer?

A relação entre a microbiota, a boca, o intestino e o cérebro na doença de Alzheimer é um campo de pesquisa promissor, que pode abrir novas possibilidades para a prevenção e o tratamento da doença. No entanto, ainda há muitas questões a serem esclarecidas sobre os mecanismos exatos envolvidos nessa relação, bem como sobre a eficácia e a segurança de possíveis intervenções baseadas na modulação da microbiota.

Por isso, é importante que as pesquisas continuem avançando nessa área, buscando compreender melhor como as bactérias da boca e do intestino podem afetar o cérebro, quais são os fatores que influenciam a composição e a função da microbiota, como a genética, a dieta, o estresse e o ambiente, e quais são as melhores formas de manipular a microbiota para obter benefícios para a saúde cerebral.

Algumas das pesquisas em andamento que visam explorar esses aspectos são:

  • Um estudo que pretende avaliar o efeito de um probiótico contendo Bifidobacterium longum em pacientes com Alzheimer leve a moderado, medindo os parâmetros cognitivos, comportamentais, inflamatórios e microbiológicos.
  • Um estudo que pretende investigar o impacto de uma dieta rica em fibras e probióticos na microbiota intestinal e na função cognitiva de idosos com comprometimento cognitivo leve, usando técnicas de sequenciamento genético e de ressonância magnética.
  • Um estudo que pretende testar a hipótese de que a infecção por P. gingivalis pode ser um fator de risco para o Alzheimer, usando modelos animais e humanos, e avaliar o potencial de um inibidor da proteína gingipaina como uma nova terapia para a doença.
  • Um estudo que pretende examinar a relação entre a microbiota intestinal e o risco de Alzheimer em uma grande coorte de indivíduos, usando dados de metagenômica, metabolômica e neuroimagem.

Esses são apenas alguns exemplos de pesquisas que estão sendo realizadas ou planejadas para ampliar o nosso conhecimento sobre a relação entre a microbiota, a boca, o intestino e o cérebro na doença de Alzheimer.

Essas pesquisas podem trazer novas descobertas e esperanças para as pessoas que sofrem ou que podem vir a sofrer dessa doença devastadora.

Conclusão

Neste artigo, você aprendeu como as bactérias que vivem na sua boca e no seu intestino podem ter um impacto na sua saúde cerebral e na prevenção do Alzheimer. Você viu quais são as evidências científicas que sustentam essa hipótese, quais são as expectativas de futuro e as pesquisas em andamento sobre esse tema, e quais são as possíveis estratégias para prevenir e tratar a doença baseadas na modulação da microbiota.

Esperamos que você tenha gostado deste artigo e que ele tenha sido útil para você. Se você quiser saber mais sobre esse assunto, consulte os estudos originais e os médicos especializados. E não se esqueça de manter uma boa higiene oral e intestinal, pois isso pode fazer a diferença na sua saúde cerebral e na sua qualidade de vida.

Lembre-se: a saúde da sua boca e do seu intestino pode afetar o seu cérebro e prevenir o Alzheimer.

Agradecemos a sua atenção e convidamos você a curtir, comentar e compartilhar este artigo com os seus amigos e familiares. Até a próxima!

By IDFM

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