A doença de Alzheimer é uma das principais causas de demência no mundo, afetando milhões de pessoas e suas famílias. Apesar de ainda não haver uma cura definitiva para a doença, muitas pesquisas e avanços têm sido feitos no campo da neurociência, buscando entender melhor as causas, os mecanismos, os diagnósticos e os tratamentos da doença.
Neste artigo, vamos explorar algumas das descobertas promissoras na pesquisa da doença de Alzheimer.
As causas da doença de Alzheimer
A causa exata da doença de Alzheimer ainda é desconhecida, mas sabe-se que envolve fatores genéticos, ambientais e de estilo de vida. Cerca de 1% dos casos são hereditários, causados por mutações em genes específicos que levam à produção anormal de proteínas que se acumulam no cérebro. A maioria dos casos, porém, é esporádica, ou seja, não tem uma causa genética clara.
Uma das principais hipóteses para explicar a origem da doença é a do acúmulo de proteínas beta-amilóide e tau no cérebro. Essas proteínas são normalmente produzidas e eliminadas pelo organismo, mas em alguns casos elas se agregam e formam placas e emaranhados que danificam os neurônios e provocam inflamação. Alguns fatores que podem favorecer esse acúmulo são: idade avançada, trauma craniano, infecções virais ou bacterianas, exposição a metais pesados ou pesticidas, diabetes, hipertensão, colesterol alto, obesidade, tabagismo, sedentarismo e estresse.
Algumas pesquisas recentes têm buscado identificar outros fatores que possam estar envolvidos na causa da doença de Alzheimer. Por exemplo:
- Um estudo publicado em 2022 na revista Nature sugere que a doença de Alzheimer pode ser desencadeada por uma falha no sistema imunológico que ataca as próprias células cerebrais. Os pesquisadores descobriram que alguns pacientes com Alzheimer tinham anticorpos contra uma proteína chamada SIRPα, que é responsável por evitar que os macrófagos (células de defesa) devorem as células saudáveis. Esses anticorpos poderiam fazer com que os macrófagos atacassem os neurônios e contribuíssem para a inflamação e a degeneração cerebral.
- Um estudo publicado em 2022 na revista Science Translational Medicine sugere que a doença de Alzheimer pode ser influenciada pela microbiota intestinal, ou seja, pelo conjunto de bactérias que habitam o intestino. Os pesquisadores descobriram que alguns pacientes com Alzheimer tinham uma composição diferente da microbiota intestinal em relação aos indivíduos saudáveis. Eles também observaram que algumas bactérias intestinais poderiam produzir substâncias que afetariam o metabolismo da proteína beta-amilóide no cérebro. Além disso, eles demonstraram que o transplante fecal (a transferência de fezes de um doador para um receptor) poderia alterar a microbiota intestinal e reduzir os níveis de beta-amilóide no cérebro de camundongos com Alzheimer.
Os diagnósticos da doença de Alzheimer
O diagnóstico da doença de Alzheimer é baseado na avaliação clínica do paciente, incluindo sua história médica, seu exame físico e neurológico e seus testes cognitivos. No entanto, esses métodos nem sempre são precisos ou suficientes para confirmar a presença da doença ou diferenciá-la de outras formas de demência. Por isso, muitas pesquisas e avanços têm sido feitos para desenvolver métodos mais sensíveis e específicos para o diagnóstico da doença.
Um dos principais desafios é detectar a doença em seus estágios iniciais ou pré-clínicos, quando ainda não há sintomas evidentes, mas já há alterações cerebrais que poderiam ser tratadas ou prevenidas. Alguns dos métodos que têm sido estudados para esse fim são:
- A análise de biomarcadores, ou seja, de substâncias que indicam a presença ou a progressão da doença. Esses biomarcadores podem ser encontrados no líquido cefalorraquidiano (LCR), que banha o cérebro e a medula espinhal, ou no sangue. Por exemplo:
- Os níveis de proteína beta-amilóide e tau no LCR ou no sangue podem refletir o acúmulo dessas proteínas no cérebro.
- A proteína neurogranina, que indica a perda de sinapses (conexões entre os neurônios);
- A proteína neurofilamento de cadeia leve (NfL), que indica a degeneração axonal (parte do neurônio que conduz o impulso nervoso); e
- A proteína TREM2, que indica a ativação dos macrófagos.
- A realização de exames de imagem, que permitem visualizar as estruturas e as funções do cérebro. Esses exames podem mostrar alterações na forma, no volume, na atividade ou na perfusão do cérebro, que podem estar relacionadas à doença de Alzheimer. Alguns dos exames de imagem que têm sido utilizados para o diagnóstico da doença são:
- A tomografia computadorizada (TC), que mostra o aspecto anatômico do cérebro;
- A ressonância magnética (RM), que mostra o aspecto anatômico e funcional do cérebro;
- A tomografia por emissão de pósitrons (PET), que mostra o metabolismo do cérebro; e
- A tomografia por emissão de fóton único (SPECT), que mostra a perfusão do cérebro.
Os tratamentos da doença de Alzheimer
O tratamento da doença de Alzheimer é principalmente sintomático, ou seja, visa aliviar os sintomas cognitivos e comportamentais da doença e melhorar a qualidade de vida dos pacientes e seus cuidadores.
- os inibidores da colinesterase (como donepezil, rivastigmina e galantamina) e
- o antagonista do receptor NMDA (como memantina).
Esses medicamentos atuam modulando os neurotransmissores (substâncias químicas que transmitem os sinais entre os neurônios) envolvidos na memória e na aprendizagem.
No entanto, esses medicamentos têm uma eficácia limitada e temporária, não impedem a progressão da doença e podem causar efeitos colaterais.
Por isso, muitas pesquisas e avanços têm sido feitos para desenvolver tratamentos mais efetivos e duradouros para a doença de Alzheimer. Alguns dos tratamentos que têm sido estudados são:
- Os anticorpos monoclonais, que são moléculas produzidas em laboratório que se ligam especificamente às proteínas beta-amilóide ou tau e facilitam sua eliminação pelo sistema imunológico. Esses anticorpos podem ser administrados por via intravenosa ou subcutânea.
- Os inibidores da BACE1, que são moléculas que bloqueiam a ação de uma enzima chamada beta-secretase 1 (BACE1), que é responsável por cortar a proteína precursora de amiloide e gerar o beta-amilóide. Esses inibidores poderiam prevenir ou reduzir o acúmulo de beta-amilóide no cérebro. No entanto, esses inibidores não mostraram eficácia clínica e alguns deles causaram efeitos colaterais graves, como alterações hepáticas e neuropsiquiátricas.
- As terapias gênicas, que são técnicas que visam modificar ou corrigir genes defeituosos que estão relacionados à doença de Alzheimer. Essas técnicas podem ser usadas para aumentar a expressão de genes protetores, como o gene APOE2, que está associado a um menor risco de desenvolver a doença; ou para diminuir a expressão de genes prejudiciais, como o gene APOE4, que está associado a um maior risco de desenvolver a doença. Algumas das terapias gênicas que têm sido estudadas para o tratamento da doença de Alzheimer usam vírus modificados para transportar genes desejados para as células-alvo; e que usa uma ferramenta molecular capaz de editar genes específicos com precisão.
- As terapias celulares, que são técnicas que visam substituir ou regenerar as células cerebrais danificadas pela doença de Alzheimer. Essas técnicas podem usar células-tronco, que são células capazes de se diferenciar em vários tipos de células; ou células progenitoras neurais, que são células capazes de se diferenciar em neurônios e células da glia. Essas células podem ser obtidas do próprio paciente (autólogas) ou de doadores compatíveis (alogênicas). Algumas das terapias celulares que têm sido estudadas para o tratamento da doença de Alzheimer são: o transplante intracerebral, que injeta as células diretamente no cérebro; e o transplante intravenoso, que injeta as células na corrente sanguínea.
Conclusão
A doença de Alzheimer é uma condição complexa e desafiadora, que requer mais pesquisas e avanços para elucidar suas causas, melhorar seus diagnósticos e desenvolver seus tratamentos.
Neste episódio da série, apresentamos algumas das descobertas recentes e promissoras na pesquisa da doença de Alzheimer, mas ainda há muito a ser feito. O mais importante é não perder a esperança e o apoio aos pacientes e seus cuidadores.
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