O presidente-executivo da Volkswagen, Martin Winterkorn, renunciou nesta quarta-feira (23), quase uma semana depois de o escândalo de fraude de emissões de poluentes em carros a diesel vir à tona. De acordo com o Grupo Volkswagen, o substituto deverá ser anunciado na próxima sexta-feira (25). Winterkorn, de 68 anos, estava à frente da empresa desde 2007.
No comunicado em que anunciou que deixou o cargo, o executivo diz: “Estou chocado com os acontecimentos dos últimos dias. Acima de tudo, estou abismado por como foi possível um erro de conduta de tal tamanho no Grupo Volkswagen”.
Porém, Winterkorn ressalta que não está a par de nenhum erro que tenha sido cometido por ele (leia o comunicado de Winterkorn na íntegra ao fim da reportagem).
O comitê executivo do Conselho Supervisor da companhia, também em comunicado, destacou que Winterkorn “não tinha conhecimento da manipulação de dados de emissões”. E informa que o ex-presidente também pediu para ser desligado da empresa.
Como tudo começou
A crise na fabricante alemã começou na última quinta (17), depois que o governo dos Estados Unidos acusou a marca de adulterar resultados em testes de poluentes, em 500 mil veículos vendidos no país. A desconfiança começou pela diferença entre nível de emissão obtido em testes oficiais e o de testes de rodagem.
Após investigar o caso, a agência ambiental americana (EPA) concluiu que a montadora utilizava um software que controlava a emissão de poluentes apenas no momento em que os carros eram submetidos a vistorias. Entre eles os modelos que possuem esse dispositivo, segundo a EPA, estão Jetta, Beetle (chamado de Fusca no Brasil), Golf, Passat e o Audi A3 –da marca que pertence ao grupo Volkswagen. Eles foram fabricados entre 2009 e 2015.
A Volkswagen falou sobre o caso pela primeira vez no domingo passado (20), quando Winterkorn pediu desculpas, mas não mencionou que a má prática ocorria em outros mercados, além do americano. Na segunda (21), o presidente da montadora nos EUA, Mark Horn, foi mais enfático: “Nós ferramos tudo. Nossa empresa foi desonesta”, afirmou, durante o lançamento do novo Passat, em Nova York.
No entanto, na última terça (22), a Volkswagen admitiu que 11 milhões de veículos a diesel em todo o mundo tiveram um software instalado a manipulação de resultados de emissões de gases tóxicos. E que separou 6,5 bilhões de euros, o equivalente a metade do lucro previsto para este ano, para consertar os carros e arcar com eventuais punições, como multas.
O que disse o CEO
Nesta quarta, o Conselho do Grupo Volkswagen se reuniu e Winterkorn divulgou um comunicado sobre a renúncia. “A Volkswagen precisa de um novo começo – também em termos de pessoal. Estou abrindo caminho para este novo começo com a minha demissão”, afirmou o executivo na nota. “Estou fazendo isso pelo bem da companhia ainda que não esteja ciente de nenhum erro da minha parte”, completou.
(Foto: Flavio Moraes/G1)
Pouca informação
Apesar de admitir que a falha atinge outros mercados, a Volkswagen não especificou em que outros países estão esses carros nem quais são os modelos e marcas. Disse apenas que eles utilizam o motor EA 189, que é 2.0 litro.
No Brasil, a lei não permite veículos leves com motores a diesel. Apenas picapes e SUVs podem rodar com esse combustível, além de caminhões e ônibus. O único carro vendido pela Volkswagen no país com motor a diesel é a picape Amarok.
Procurada pelo G1 na última terça (22), a Volkswagen do Brasil não respondeu se o modelo está envolvido, apenas divulgou a nota emitida pela matriz na terça, sobre os 11 milhões de carros que possuem o software no mundo todo.
Alemanha diz que não sabia
O Ministério dos Transportes da Alemanha negou nesta quarta que tinha conhecimento sobre a tecnologia usada pela Volkswagen para fraudar os testes de emissões de poluentes, apesar de reconhecer que sabia de uma diferença entre “testes” e emissões nas ruas.
Membros do Partido Verde questionaram o governo sobre a discrepância entre as emissões no ambiente de teste e durante a condução normal. O Ministério dos Transportes, respondendo em nome do governo, reconheceu em um comunicado que estava ciente do problema e que estava buscando regras mais rígidas. A resposta não reconheceu, no entanto, qualquer manipulação deliberada.
“Não havia nenhum conhecimento do Ministério dos Transportes sobre o uso de tecnologia de controle de emissões”, disse um porta-voz do ministério.
O caso será alvo de investigação criminal na Alemanha e nos Estados Unidos, e também será investigado na Coreia do Sul.
Leia o comunicado de renúncia de Winterkorn na íntegra:
“Estou fazendo isso pelo bem da companhia ainda que não esteja ciente de nenhum erro da minha parte. Estou chocado com os eventos dos últimos dias. Acima de tudo, estou abismado por como foi possível um erro de conduta de tal tamanho no Grupo Volkswagen.
Como CEO, aceito a responsabilidade pelas irregularidades que foram encontradas nos motores a diesel e pedi aos supervisores que concordassem com a minha saída do cargo de CEO do Grupo Volkswagen. Estou fazendo isso pelo bem da companhia ainda que não esteja ciente de nenhum erro da minha parte.
A Volkswagen precisa de um recomeço do zero – mesmo em termos de pessoal. Estou deixando o caminho livre para esse recomeço com a minha renúncia. Sempre fui movido pelo meu desejo de servir a empresa, especialmente aos clientes e funcionários. A Volkswagen foi, é e sempre será a minha vida.
O processo de esclarecimento e transparência precisa continuar. É única forma de recuperarmos a confiança. Estou convencido de que o Grupo Volkswagen e a sua equipe vão superar esta grave crise.”
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