Originally posted 2023-09-27 11:11:00.
Você já ouviu falar do guaiamum? Ele é um tipo de caranguejo terrestre que vive nas áreas de manguezal e apicum do litoral nordestino. Ele é considerado uma iguaria da culinária pernambucana, que tem influências portuguesas, africanas e indígenas. O guaiamum pode ser preparado de várias formas, como cozido, assado, frito ou ensopado. Ele é geralmente servido com farinha de mandioca, pirão, vinagrete ou molho de coco.
Mas você sabia que o guaiamum também é uma espécie ameaçada de extinção e um símbolo da cultura pernambucana?
Pois é, essa é uma história triste e bonita ao mesmo tempo. Ela envolve a relação entre os pescadores artesanais, o meio ambiente e a tradição gastronômica. Ela mostra como o guaiamum é mais do que um simples caranguejo. Ele é uma fonte de renda, de alimento e de identidade para muitas pessoas.
O Guaiamum: um crustáceo de grande valor ecológico e econômico
O guaiamum, cujo nome científico é Cardisoma guanhumi, é um crustáceo que pertence à família dos gecarcinídeos. Ele se caracteriza por ter uma carapaça larga e achatada, que pode atingir até 15 centímetros de diâmetro, e por ter garras desiguais, sendo uma maior do que a outra. Ele tem uma coloração que varia do azul escuro ao cinza claro, dependendo da idade e do sexo. Os machos costumam ser mais escuros e maiores do que as fêmeas.
O guaiamum é um animal que se adapta bem a diferentes ambientes. Ele pode viver tanto na água salgada quanto na água doce, e pode se locomover tanto na superfície quanto no subsolo. Ele se alimenta principalmente de matéria orgânica em decomposição, como folhas, frutos e sementes que caem dos manguezais. Ele também pode comer pequenos animais, como moluscos, vermes e insetos.
O guaiamum tem um papel importante no equilíbrio ecológico dos ecossistemas onde vive. Ele contribui para a reciclagem de nutrientes, para a aeração do solo e para a dispersão de sementes. Ele também serve de alimento para outros animais, como aves, répteis e mamíferos.
O guaiamum também tem um grande valor econômico para as populações tradicionais que vivem no litoral nordestino. Ele é capturado por pescadores artesanais que usam técnicas simples, como ciscos (varas com anzóis), laços (cordas com nós) ou puçás (cestos de bambu). Ele é vendido nas feiras livres ou nos mercados públicos, onde é muito apreciado pelos consumidores. Ele também é comercializado para outros estados ou países, onde é considerado uma iguaria exótica.
O Guaiamum: uma espécie em risco de desaparecer
Apesar da sua importância ecológica e econômica, o guaiamum está enfrentando sérias ameaças à sua sobrevivência. Ele está sofrendo com a pesca predatória, a destruição do seu habitat e a poluição das águas.
A pesca predatória é uma das principais causas da redução dos estoques do guaiamum. Muitos pescadores não respeitam as normas ambientais que regulam a captura da espécie, como o tamanho mínimo (7 centímetros de largura da carapaça), o período do defeso (de maio a julho) e os instrumentos permitidos (ciscos, laços ou puçás). Eles capturam os guaiamuns indiscriminadamente, sem se preocupar com a reprodução e a sustentabilidade da espécie.
A destruição do seu habitat é outra causa grave da diminuição do guaiamum. Os manguezais e os apicuns, que são as áreas onde o guaiamum vive e se alimenta, estão sendo devastados por diversas atividades humanas, como o desmatamento, a urbanização, a agricultura, a carcinicultura (criação de camarões) e a mineração. Essas atividades provocam a perda de biodiversidade, a erosão do solo, a alteração do fluxo de água e a salinização do terreno.
A poluição das águas é mais um fator que prejudica o guaiamum. Os rios, as lagoas e o mar que banham o litoral nordestino estão recebendo uma grande quantidade de resíduos sólidos e líquidos, provenientes de esgotos domésticos, industriais e agrícolas. Esses resíduos contêm substâncias tóxicas, como metais pesados, agrotóxicos e micro-organismos patogênicos. Essas substâncias afetam a qualidade da água, reduzem o oxigênio dissolvido e causam doenças nos guaiamuns e em outros seres vivos.
Por causa dessas ameaças, ele foi considerado Criticamente em Perigo (CR) de extinção pelo Ministério do Meio Ambiente. Ele também está no Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção e na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). Isso significa que se nada for feito para protege-lo, ele pode desaparecer em breve da natureza.
Um símbolo da cultura pernambucana
Apesar da situação crítica do guaiamum, ainda há esperança para essa espécie. Muitas pessoas estão se mobilizando para defender ele e o seu valor cultural para Pernambuco. Elas estão realizando ações de conscientização, educação ambiental, fiscalização, pesquisa e manejo sustentável.
O guaiamum é um símbolo da cultura pernambucana, pois representa a história, a identidade e a gastronomia desse estado. Ele faz parte da tradição dos pescadores artesanais, que há séculos capturam e vendem esse crustáceo nas feiras e nos mercados. O guaiamum também faz parte da culinária pernambucana, que tem influências portuguesas, africanas e indígenas.
Também é uma fonte de inspiração para as manifestações artísticas e culturais de Pernambuco. Ele está presente na música, na literatura, na poesia, no teatro, no cinema e no artesanato. Ele é cantado por artistas como Alceu Valença, Zé Ramalho e Lenine. Ele é escrito por autores como Gilberto Freyre, Ariano Suassuna e João Cabral de Melo Neto. Ele é representado por poetas como Ascenso Ferreira, Manuel Bandeira e Carlos Pena Filho. Ele é encenado por atores como José Wilker, Lúcio Mauro e Matheus Nachtergaele. Ele é filmado por cineastas como Guel Arraes, Cláudio Assis e Marcelo Gomes. Ele é esculpido por artesãos como Mestre Vitalino, Zé Caboclo e Jota Borges.
Perguntas Frequentes
Como diferenciar o macho da fêmea do guaiamum?
Uma forma de diferenciar o macho da fêmea do guaiamum é observar a forma e a cor da carapaça. O macho tem uma carapaça mais larga e achatada, com uma protuberância triangular na parte inferior. A fêmea tem uma carapaça mais arredondada e convexa, com uma protuberância semicircular na parte inferior. Além disso, o macho tem uma coloração mais escura, variando do azul ao cinza, enquanto a fêmea tem uma coloração mais clara, variando do verde ao marrom.
Qual é o período do defeso do guaiamum?
O período do defeso do guaiamum é o intervalo de tempo em que a pesca da espécie é proibida ou restrita, para garantir a sua reprodução e conservação. No Brasil, o período do defeso do guaiamum varia de acordo com a região. No Nordeste, ele vai de 1º de maio a 31 de julho. No Sudeste e no Sul, ele vai de 1º de outubro a 31 de dezembro. Durante esse período, é proibido capturar, transportar, beneficiar ou comercializar o guaiamum vivo ou morto.
Onde encontrar o guaiamum em Pernambuco?
O guaiamum é um crustáceo que habita os manguezais e as áreas adjacentes ao longo do litoral nordestino. Em Pernambuco, ele pode ser encontrado em diversas localidades, como Recife, Olinda, Ipojuca, Sirinhaém, Tamandaré e São José da Coroa Grande. No entanto, a sua população vem sofrendo com a pesca predatória e a destruição do seu habitat. Por isso, é importante respeitar as normas ambientais que regulam a sua captura e consumo.
Uma proposta para preservação
Diante da situação crítica do guaiamum, que está ameaçado de extinção por causa da pesca predatória, da destruição do seu habitat e da poluição das águas.
Diante desta situação, que tal o governo pernambucano instituir uma semana de preservação do guaiamum, uma semana sem consumir o guaiamum. Essa seria uma forma de sensibilizar a população sobre a importância ecológica e econômica desse crustáceo, e também de valorizar a sua cultura e gastronomia.
Durante essa semana, haveria diversas atividades educativas, culturais e gastronômicas relacionadas ao guaiamum. Por exemplo:
- Palestras, oficinas e exposições sobre a biologia, a ecologia e o manejo sustentável do guaiamum e dos manguezais.
- Visitas guiadas aos manguezais e aos apicuns, onde os participantes poderiam observar os guaiamuns em seu habitat natural e aprender sobre a sua importância para o equilíbrio ambiental.
- Campanhas de fiscalização e denúncia contra a pesca ilegal e o comércio irregular do guaiamum, que violam as normas ambientais vigentes.
- Shows, peças teatrais, filmes e exposições de arte que homenageiam o guaiamum como um símbolo da cultura pernambucana.
- Festivais gastronômicos que oferecem pratos alternativos ao guaiamum e típicos da culinária pernambucana.
Acreditamos que essa proposta seria benéfica para o guaiamum, para o meio ambiente e para a sociedade pernambucana. Ela contribuiria para a conservação da espécie e dos ecossistemas onde ela vive. Ela estimularia a educação ambiental e a cidadania dos pernambucanos. Ela valorizaria a cultura e a gastronomia pernambucanas. Ela fortaleceria a identidade e o orgulho dos pernambucanos.
E você o que acha?
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