Para quem soube fazer do silêncio uma crônica.
Sabe, Veríssimo, a gente passa a vida inteira escrevendo sobre a vida. Sobre o que a gente pensa, o que acontece na rua, o que não acontece em lugar nenhum. Mas nunca me preparei para escrever sobre o dia em que o escritor se cala. A ironia da coisa é que, foda é ter que ficar explicando a ironia. Achei que a última crônica seria sobre a ausência de assunto. E não a ausência do autor.
É curioso, a gente se acostuma com a rotina. O café, o jornal, a folha em branco ou a tela do computador. Aquele alívio de encontrar uma palavra que faça sentido, ou o desespero quando a frase não sai. A gente vive de palavras. E, de repente, o silêncio é a única que sobra. Dizem que a velhice é o único meio de viver muito tempo, mas é também uma forma de se despedir de coisas, uma a uma.
O ser humano é um animal capaz de rir, de chorar, de amar e de cometer as maiores burrices. E, de alguma forma, é isso que faz a vida valer a pena, essa capacidade de ser tão ridículo e tão sublime ao mesmo tempo. A vida é como uma viagem de trem: só se dá conta do que passou pela janela depois que o trem para. E quando o trem para de vez, a gente percebe que o mais importante não era o destino, mas o caminho.

E o que a gente deixa quando não tem mais o que dizer? Deixa as palavras. Ficam por aí, soltas no mundo, procurando quem queira lê-las e dar a elas um novo sentido. E ficam as memórias, que são como rascunhos que a gente não teve tempo de revisar.
A partida de Luís Fernando Veríssimo não é o fim das palavras, mas o começo de um silêncio que, de certa forma, também é um texto. Um texto que não precisa ser escrito para ser lido.
“O silêncio não é vazio. É o eco das palavras que já foram ditas.”
Obrigado pela leitura.