Como um esquema bilionário de descontos indevidos no INSS pode se manter por anos sem ser interrompido? Na ultima sexta-feira, 12 de setembro de 2025, a Polícia Federal deflagrou a Operação Cambota, um desdobramento da Operação Sem Desconto, para investigar fraudes que movimentaram aproximadamente R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024.
Foram cumpridos 2 mandados de prisão preventiva e 13 mandados de busca e apreensão em São Paulo e Distrito Federal, incluindo endereços ligados a figuras centrais como Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, e o empresário Maurício Camisotti. Advogados e ex-sócios de escritórios de grande porte também tiveram endereços alvos de buscas.
Confira abaixo um panorama sobre os investigados, seus vínculos, bens apreendidos e o histórico jurídico conhecido, tudo organizado para apresentar com clareza cada conexão da rede de fraudes.
Índice
- Evolução Histórica
- Antônio Carlos Camilo Antunes – “Careca do INSS”
- Maurício Camisotti
- Nelson Wilians – advogado
- Fernando Cavalcanti – ex-sócio
- Pessoas e Temas Citados
Evolução Histórica
A fraude investigada na Operação Cambota é um desdobramento da Operação Sem Desconto (abril/maio de 2025), que já havia identificado práticas ilegais envolvendo descontos indevidos em aposentadorias e pensões do INSS. O esquema se estendeu por vários anos (2019–2024), movimentando cerca de R$ 6,3 bilhões segundo estimativas da CGU e da Polícia Federal.
O caso evidencia um padrão de atuação em que associações intermediárias realizavam descontos nos benefícios sem autorização dos segurados, repassando os recursos para operadores centrais e, por fim, beneficiários finais. A complexidade do esquema envolvia:
- Uso de empresas de propósito específico (SPEs) para mascarar a origem dos recursos.
- Participação de operadores e lobistas com contatos em órgãos públicos.
- Repasses financeiros imediatos que dificultavam rastreamento.
- Práticas recorrentes de blindagem patrimonial por meio de múltiplas sociedades.
A Operação Cambota foca na identificação dos principais alvos, apreensão de bens e documentos, e aprofundamento das investigações sobre os mecanismos financeiros utilizados.
Houve anulação parcial de relatório do Coaf (RIF) que embasava investigação sobre a Ambec, com determinação de exclusão do RIF e das provas dele decorrentes. Embora essa decisão restrinja o uso de certos dados, outros elementos da investigação permanecem válidos e em andamento.
Antônio Carlos Camilo Antunes – “Careca do INSS”
Apelido: “Careca do INSS”. Considerado pela PF o operador central do esquema e lobista do setor. Suas ações conectam associações que aplicavam descontos indevidos e servidores públicos.
Antônio Carlos Camilo Antunes é descrito como intermediário que utilizava empresas para receber e repassar recursos provenientes de associações que descontavam aposentadorias sem autorização. A investigação aponta repasses de cerca de R$ 53,5 milhões para pessoas e empresas ligadas a ele.
Nome vinculado a desdobramentos da Operação Sem Desconto e movimentações/contratos com associações suspeitas.
Vínculos empresariais e organização
- Sócio de aproximadamente 22 empresas, muitas delas SPEs, usadas para “blindagem” de controladores.
- Empresas serviam como ponte financeira entre associações e destinatários finais.
Ligações políticas / com autoridades
- Ocorrências de contatos com autoridades do INSS.
- Presença em eventos com dirigentes da Previdência.
- Um veículo apreendido anteriormente estava registrado em nome da esposa de um ministro do TCU, vendido posteriormente.
Bens apreendidos / dimensão financeira
- Veículos de luxo: Land Rover, BMWs, Porsches.
- Joias e documentos.
- Movimentações financeiras rápidas, dificultando rastreamento.
- Valores ligados a empresas/pessoas chegam a dezenas de milhões.
Histórico jurídico / processos anteriores
- Alvo da Operação Sem Desconto (abril/maio de 2025).
- Pedidos judiciais para anulação de partes da investigação em andamento.
- Quebras de sigilo aprovadas pela CPMI.
- Tentativas de proibir uso do apelido “Careca do INSS” foram vetadas.
Maurício Camisotti
Empresário do setor de saúde e seguros (Grupo Total Health), apontado pela PF como beneficiário final de repasses das entidades investigadas. Preso nesta fase da Operação Cambota.
Empresário vinculado a empresas do Grupo Total Health, identificado como beneficiário de recursos provenientes de associações que aplicavam descontos indevidos. Investigações apontam recebimento de ao menos R$ 43 milhões e faturamento superior a R$ 1 bilhão desde 2021.
Figura central na Operação Sem Desconto (abril/maio 2025); menções em CPMI do INSS e relatórios da CGU/PF.
Vínculos empresariais e organização
- Controlava empresas do Grupo Total Health (Benfix, Ambec, Unsbras, Cebap, entre outras).
- Sociedades incluíam familiares (primos, irmã, ex-cunhado) em cargos/participações estratégicas.
Ligações políticas / com autoridades
- Documentos e quebras de sigilo indicam contatos com autoridades em Brasília.
- Mencionado na CPI da Covid (2021), vinculado a questões do setor de saúde e da CPMI do INSS.
Bens apreendidos / dimensão financeira
- Carros de luxo (Lamborghini citada em reportagens).
- Obras de arte e relógios de alto valor.
- Faturamento das associações ligadas a ele: centenas de milhões por ano.
Histórico jurídico / processos anteriores
- Citado em inquéritos e relatórios da PF relacionados à CPI da Covid.
- Medidas cautelares e quebras de sigilo em andamento.
Nelson Wilians — Advogado (alvo de buscas)
Dono do escritório Nelson Wilians & Advogados. Mandados de busca cumpridos em endereços ligados a ele e ao ex-sócio Fernando Cavalcanti. Conhecido nas redes como “advogado ostentação”.
O escritório e Nelson Wilians já apareceram em documentos de investigações anteriores sobre o esquema do INSS; não há sentença condenatória pública até o momento.
O que a PF/Coaf apontam
- Movimentações financeiras atípicas de cerca de R$ 4,3 bilhões (2019–2023).
- Pagamentos de R$ 15,5 milhões para empresas/empresários ligados ao esquema, incluindo Camisotti.
Vínculos empresariais e organização
- Escritório de atuação nacional, com repasses a entidades/empresários investigados.
- Defesa afirma cooperação com investigações.
Bens apreendidos / dimensão financeira
- Obras de arte e outros bens nos endereços ligados ao escritório.
- Ferrari e itens de luxo do ex-sócio Fernando Cavalcanti.
Fernando dos Santos Andrade Cavalcanti — Ex-sócio / alvo de buscas
Ex-sócio de Nelson Wilians, alvo de buscas em residência no Lago Sul (Brasília). Apreensões incluem Ferrari vermelha, réplica de Fórmula 1 e outros itens de luxo.
A PF aponta participação como operador vinculado a movimentações financeiras e bens relacionados a pessoas e empresas investigadas, buscando documentos e rastreamento de recursos.
Não há registros públicos de condenações anteriores; investigação atual é foco principal. Defesa pode se manifestar nos autos.
Pessoas e temas frequentemente citados no inquérito
Além dos alvos principais, a investigação cita diversas pessoas e temas relevantes, mesmo que não sejam alvo direto da Operação Cambota:
- Danilo Trento: Empresário citado na CPI da Covid (2021), com possíveis conexões ao esquema de descontos indevidos do INSS. Aparece em documentos e relatórios que ligam figuras da CPI a este novo inquérito.
- Alessandro Stefanutto: Ex-presidente do INSS, afastado e depois exonerado após a Operação Sem Desconto. Relatórios e depoimentos na CPMI indicam decisões administrativas que facilitaram a inclusão de descontos, como flexibilização de exigência de biometria. Negou irregularidades; investigação segue.
Conclusão
O desdobramento da Operação Cambota revela a complexidade e a amplitude dos esquemas de descontos indevidos no INSS, envolvendo empresários, advogados e operadores financeiros. A investigação expõe a intersecção entre interesses privados e falhas institucionais, exigindo atenção contínua da sociedade e órgãos de controle.
“Quando a suspeita é pública, a responsabilidade de fiscalizar é de todos; a verdade se constrói com fatos, não com rumores.”
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Fontes:
Todo o conteúdo se baseia em informações públicas e alegações extraídas de investigações e reportagens A investigação é dinâmica e os fatos ainda dependem de análise pericial, quebras de sigilo e decisões judiciais. Levantamentos e apurações refletem o estado do conhecimento até 12/09/2025.